18 outubro 2010

Mensagem do presidente do Conselho Federal de Medicina

No mês em que se comemora o Dia do Médico, ressalto o orgulho que sinto em ser médico e lutar por uma Medicina digna e de qualidade. Mas a categoria que reúne 350 mil profissionais tem uma pergunta a fazer aos gestores, tomadores de decisão e à sociedade em geral. Afinal, qual o futuro da saúde brasileira? A questão encerra angústia de quem, ao longo dos anos, assiste a crise que atinge o Sistema Único de Saúde (SUS) e que se estende às atividades na Saúde Suplementar.

Estarrecidos, acompanhamos a aparente inércia dos responsáveis pela assistência diante da falta de recursos para o SUS, do desaparelhamento da rede hospitalar, da desregulação que permeia a convivência de médicos, usuários e planos e operadoras de saúde, e da ausência de políticas adequadas para a área de recursos humanos. Neste momento, com a saúde à beira do abismo, fazemos mais um alerta à nação.

Em 1988, o país viu nascer o SUS, esperança de atendimento universal, integral, gratuito, hierarquizado e descentralizado para todos os brasileiros. Com a Constituição, a saúde passou a ser dever do Estado e direito dos cidadãos. No entanto, o modelo – considerado ainda hoje referência internacional – não evoluiu com a mesma velocidade que as transformações sociais, culturais e epidemiológicas que atingiram o Brasil nestas últimas décadas. Essa estagnação coloca-o em risco. Para garantir novos avanços, faz-se urgente repensá-lo dentro de novas bases.

Permeando os problemas que se acumulam nas áreas pública e privada, está o descaso com relação aos médicos enquanto força de trabalho fundamental para a assistência. Os profissionais penam com honorários defasados, precarização dos vínculos de emprego e estrutura de trabalho inexistente. O silêncio dos gestores diante desse quadro repercute na autoestima da categoria, em busca de sua valorização. A criação de uma carreira de Estado para os médicos e os profisssionais da saúde, o reconhecimento do papel desses indivíduos no processo da assistência e de suas entidades representativas no debate político da saúde são reivindicações que devem ser considerados, sim.

As questões elencadas não querem calar e nos inquieta saber que a falta de ações efetivas para respondê-las deixa a todos os brasileiros sem uma perspectiva real de futuro no campo da saúde. Afinal, o que esperamos em 10, 20, 30 anos: sofrer com orçamentos insuficientes e restritivos? Ver os vazios assistenciais no interior e as áreas de difícil provimento nas metrópoles ainda sem médicos e outros profissionais da saúde? Encarar a mercantilização da saúde conduzida pelas operadoras? Esperamos em outros outubros nossa ansiedade esteja aplacada e possamos, juntos, realmente comemorar o Dia do Médico e a vitória do interesse coletivo na gestão da saúde brasileira.


Roberto Luiz d’Avila
Presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM)


Fonte: CFM

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