De 750 fichas analisadas por estudo da Fiocruz, 60% estavam incompletas, ilegíveis ou em branco Falta de informações leva a problemas como erros na administração de remédios e atrasos na realização de exames.
A maioria dos prontuários de pacientes não é preenchida de forma completa pelos médicos, segundo pesquisa da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Pernambuco. O prontuário é um direito do paciente, segundo o Código de Ética do CFM (Conselho Federal de Medicina).
Entre os riscos que o paciente corre quando o prontuário não é bem preenchido estão erros na administração de remédios e falta de continuidade no tratamento. Os próprios médicos podem ser prejudicados, em casos de questionamentos sobre as condutas adotadas e processos jurídicos.
A pesquisa analisou 750 prontuários de internação de adultos e crianças em cinco hospitais de Recife. Desses, 60% estavam incompletos, em branco ou ilegíveis, contrariando o que estabelece o CFM.
Devem estar no documento informações como identificação do paciente, exames, evolução do caso e procedimentos adotados. O estudo deu notas aos prontuários de acordo com os itens que eles deveriam conter. Para elaborar esses requisitos, o pesquisador se baseou em protocolos das escolas de medicina do país.
Dois dos hospitais avaliados eram públicos, dois eram particulares e um era filantrópico (público, mantido por instituição privada). Os nomes das instituições não foram revelados. Os hospitais particulares tiveram o maior número de prontuários péssimos: 68,3% do total. Nos dois hospitais públicos, 60% dos documentos receberam a pior nota. No filantrópico, 59,5% das fichas eram péssimas.
MOTIVOS Segundo Adriano Cavalcante Sampaio, professor da Faculdade de Ciências Médicas da UPE e autor da pesquisa, esses números revelam que o problema, já conhecido, é mais profundo do que se imaginava. A pesquisa também entrevistou os médicos para saber os motivos das falhas. Eles alegaram falta de tempo e de cobrança dos hospitais.
O presidente da Sociedade Panamericana de Medicina Hospitalar, Guilherme Barcellos, afirma que a visão antiga da medicina não estimulava o compartilhamento das informações, e isso tem mudado só recentemente. O multiemprego piora a situação. "O médico trabalha em dez lugares ao mesmo tempo, mas em nenhum de forma plena, e deixa os prontuários para o final", afirma.
Sampaio cita falhas na formação dos profissionais, que não estimula a qualidade ética do atendimento. "Se você respeita o paciente, você respeita o direito dele." Para Antonio Carlos Lopes, professor de clínica médica da Unifesp, muitos médicos têm má vontade. "O prontuário acaba virando uma 'colcha de retalhos'."
Fonte: Folha de São Paulo
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