Não há dúvidas de que a pós-graduação stricto sensu já trouxe grandes contribuições para a Medicina no Brasil. Contudo, é preciso refletir a respeito da efetiva relação custo-benefício. O que a pós-graduação representa atualmente para a sociedade? Os investimentos são de fato revertidos em bônus ao país e aos cidadãos?
A pós-graduação stricto sensu, em particular, merece análise crítica profunda. Inúmeros problemas passam despercebidos uma vez que, em algumas instituições de ensino, almeja-se o conceito máximo, enquanto que a política atual da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), órgão vinculado ao MEC, é atingir um número mágico de doutores no país. Nessa linha, encontramos orientadores com mais de dez orientandos, professores sem compromisso com a comunidade, linhas de pesquisa mal qualificadas que produzem trabalhos de baixa qualidade sem a menor condição de serem aprovados pelo corpo editorial das principais revistas científicas internacionais.
Como consequência, muitos desses futuros mestres e doutores focam seu trabalho de experimentação no laboratório e não na enfermaria, no ambulatório e no centro cirúrgico. No fim, eles esquecem muito do pouco que aprenderam envolvendo a prática da Medicina. Além disso, os pós-graduandos deveriam passar por seleção séria, mas, ao contrário, o que se vê é um critério que atende a interesses de professores/orientadores ou a indicações políticas. Enfim, o objetivo é o diploma para completar o currículo e engrossar o do orientador, um verdadeiro desrespeito ao dinheiro público.
Pós-graduação stricto sensu não é sinônimo de competência no exercício profissional. Ela tem que representar na Medicina o compromisso com o aprimoramento profissionalizante que é o que a população espera do investimento feito através do pagamento de seus impostos. A comunidade quer um médico mais bem preparado e que exerça a Medicina com humanismo, ótima relação médico-paciente e custos menores.
Em relação à residência médica, o recente aumento do número de bolsas em instituições de regiões afastadas e de difícil acesso. As autoridades se esquecem de que é fundamental haver recursos humanos e materiais, além de preceptoria competente, para que a residência médica atinja seu objetivo. Os residentes não podem ser encarados como mão de obra barata - atendendo à deficiência do serviço de saúde naquelas regiões - por falta de uma política de governo que esteja de acordo com as necessidades locais. É mais uma prova da incompetência do Departamento de Residência e Projetos Especiais na Saúde da Secretaria de Educação Superior do MEC.
Trata-se de uma discussão que deve ser aprofundada em nome do investimento criterioso do dinheiro público e da formação médica de qualidade.
Escrito porAntonio Carlos LopesPresidente da Socidade Brasileira de Clínica Médica
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