12 maio 2010

CARDIOLOGISTAS VÃO RASTREAR INFARTOS DE TORCEDOR

A emoção de um gol num jogo decisivo gera tantos problemas cardíacos nos torcedores, que a Sociedade Brasileira de Cardiologia decidiu fazer uma pesquisa sobre a influência de um jogo dramático de futebol sobre a saúde dos espectadores, durante as partidas da Copa do Mundo.

Quatro hospitais com Unidade Coronariana serão selecionados, Dante Pazzanese e Hospital do Coração entre eles, e o total de eventos cardíacos do mês de maio e sua gravidade serão correlacionados com crises de arritmias, angina, infartos e derrames durante os jogos na África do Sul.

“A única pesquisa que existe a respeito - Cardiovascular events during World Cup Soccer - foi feita na Alemanha e analisou 4.279 infartos”, explica Nabil Ghorayeb que participa da Câmara Técnica em Medicina do Esporte do Conselho Federal de Medicina, cuja função é recomendar medidas para reduzir o número de mortes durante eventos esportivos, o que pressupõe a presença de equipe de atendimento de emergência em todos os eventos.

“A Câmara foi criada por instâncias do Ministério Público Federal”, explica Nabil, pois há uma preocupação generalizada com os problemas cardíacos dentro e fora de campo. A Sociedade Brasileira de Cardiologia está ultimando a primeira ‘Diretriz em Cardiologia do Esporte’, uma coletânea de todo o que deve ser feito para atender a problemas cardíacos entre esportistas, verdadeiro manual que ficará à disposição dos médicos.

INUNDAÇÃO E TERREMOTO

“Uma emoção repentina, seja positiva ou negativa, provoca uma descarga adrenérgica no organismo”, explica o diretor de Promoção de Saúde Cardiovascular da SBC, Dikran Armaganijan, e há um aumento da freqüência cardíaca, da pressão arterial, da velocidade do sangue e isso pode levar à instabilidade do endotélio, uma camada das artérias. Se a pessoa tem problemas cardiovasculares, mesmo sem saber, uma placa de ateroma pode se romper e causar um infarto ou acidente vascular cerebral.

A própria SBC fez recentemente um estudo sobre esse efeito da emoção, quando o cardiologista Sergio Timmerman levantou a média de infartos antes e depois dos deslizamentos e enchentes que afetaram Santa Catarina, registrando um aumento de quase 30%. Os dados são compatíveis com estudos feitos durante o furacão Katrina, em Nova Orleans e durante o bombardeiro de Israel contra Beirute, no Líbano.

O caso mais recente de morte por emoção causada por futebol foi de um homem de 40 anos, que sofreu um infarto durante um recente jogo do Palmeiras, conta Nabil, que estudou o caso. Os médicos tentam estudar o problema do ponto de vista científico, conta o especialista, já houve uma tentativa de mensurar o aumento dos eventos cardíacos como arritmias e até infartos quando o Brasil perdeu jogos contra a Itália e a França, em Copas do passado, mas não havia registros confiáveis das causas dos problemas cardíacos, registros esses que é projeto da SBC organizar.

O importante, porém, é a prevenção, insistem os cardiologistas. Quem é emotivo ou fanático por futebol deve tomar cuidados especiais, se tem fatores de risco cardíaco. “Se o paciente toma um beta-bloqueador toda noite, no dia do jogo deve antecipar o horário de tomar o remédio”, explica Nabil, “é importante evitar bebidas alcoólicas e café que aumentam a pressão” e, para os muito emotivos, vale até tomar um tranqüilizante fitoterápico, aspirar o ar profundamente e solta-lo devagar, atividade que acalma e, em último caso, não assistir ao jogo.

“Tenho um cliente, radialista por sinal, que fica tão nervoso quando há um jogo importante, que vai ao cinema, para não se emocionar”, conta Nabil, e acrescenta: “e nesse caso, não é preciso ser Copa do mundo, o risco cardíaco dele se agrava é quando o Corinthians entra em campo”.

Assessoria de Imprensa
Jornalista Responsável: Luiz Roberto Queiroz



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