A dificuldade de diagnosticar a morte encefálica é um dos principais obstáculos para a ampliação do número de transplantes no país. O assunto foi tratado durante o I Fórum sobre Doação de Órgãos e Tecidos, em Brasília. O encontro foi organizado pelo CFM em parceria com o Ministério da Saúde, em 18 de março.
A carência de doadores de órgãos também foi apontada pelos participantes como um grande desafio para os transplantes no Brasil. A quantidade ainda é pequena diante da demanda de pessoas que esperam pela cirurgia. A falta de informação e o preconceito também limitanda o número de doações obtidas de pacientes com morte cerebral.
O CFM enviou ao Ministério documentos que contribuirão para superação destes desafios. As entidades produzirão uma cartilha voltada aos médicos. Segundo o coordenador da Câmara Técnica do CFM, Gerson Zafalon, os documentos abordam as dúvidas em relação ao diagnóstico de morte encefálica. “Acreditamos que será de grande utilidade aos colegas que se deparam com essa situação no dia a dia”, disse.
Segundo a coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), Rosana Nothen, o médico é o principal agente envolvido e “é por natureza o líder da assistência e se ele não estiver envolvido na doação, não há resultados”.
O professor de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná, Carlos Silvado, analisou a utilização do critério da morte encefálica determinada pelo CFM há 13 anos por meio da Resolução 1.480. “O critério tem sido bem utilizado e observamos que o médico tem sido muito cauteloso neste assunto. Entretanto, têm alguns problemas de interpretação e mudanças que precisam ser feitas”. Silvado também ressalta que a população desconhece o termo, o que dificulta o trabalho do médico. “Essa situação sempre acontece em um ambiente de muito sofrimento, o familiar não tem muito tempo de entender”, aponta.
De acordo com o intensivista, Ederlon Rezende, a perda de eventuais doadores também se dá porque em 90% dos municípios brasileiros há tem UTI e em mais da metade das UTIs não existem médicos intensivistas.
Doador - No Brasil não é necessário deixar nada por escrito. Basta comunicar a família o desejo da doação. A ação só acontece após autorização familiar. Entretanto há casos que o doador não convive com a família ou não possue nenhum parente. “As famílias estão se recompondo. Nem sempre o familiar sabe as intenções do doador, muitas vezes é um amigo ou colega de trabalho”, ressalta o promotor Diaulas Ribeiro.
O promotor Diaulas usou como exemplo o caso do deputado Clodovil Hernandes. Após diagnosticada a morte encefálica, descobriu-se que o parlamentar não tinha descendentes, ascendentes e nem colaterais. “O Ministério Público ouviu todos os assessores e colegas que apontaram que ele era doador de órgãos e autorizamos a doação”, contou.
A troca de experiência entre as centrais de transplante foi muito rica. Cada estado descreveu como é elaborado o trabalho na região.
O médico Reginaldo Boni, da central de São Paulo, acredita que campanhas não devem ser feitas ao doador e sim a equipe de saúde. Ele ainda defendeu que o médico não tem que convencer a família, e sim solicitar a doação.
Além de profissionais de saúde, foi convidado ao debate um representante do segmento da sociedade, o engenheiro agrônomo Francisco Neto de Assis. Ele é o presidente da ONG Adote destinada a promoção da doação. Segundo Assis, não faltam doadores, falta doação. “É impossível fazer com que profissionais de saúde que já têm uma carga horária tribulada fazer este trabalho voluntário. A proposta precisa ser outra”, salientou o engenheiro.
Fonte: Portal Médico
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